Teoria: No reino da Vida Selvagem
Depois do filme “Gorilas na Bruma” realizado por Michael Apted onde podíamos ver o quotidiano gorilístico (sim, inventei este vocábulo, posso?), o canal estatal da República Checa acaba de estrear um “Big Brother” cujos concorrentes são gorilas e o programa está a ter um êxito enorme. Ao todo são 16 as câmaras que acompanham dia e noite a vida de um macho, três fêmeas e um filhote numa área que inclui “casa” e um "jardim" com design, com certeza, para macaco dentro do Jardim Zoológico de Praga. O programa visa angariar fundos para uma reserva de gorilas em África. Com 175 quilos, Richard é o macho e patriarca encarregue de mandar na malta. A cria, Moja, tem um ano de idade e pesa 8 quilos. Moja ainda gatinha, mas já está a fazer grandes progressos e a tentar aprender a andar, “levanta-se e cai, levanta-se e cai!”. Não é isso que todas as crias fazem no primeiro ano de vida? Os nativos da República Checa só têm que votar no seu animal preferido, que deverá ganhar 12 melões, um dos frutos mais queridos dos gorilas. Acho o programa de muito bom gosto, sociologicamente e cientificamente interessante, pedagógico até... para que enfiemos finalmente a carapuça e não sejamos uns presunçosos do raio, a achar que somos muito diferentes dos restantes animais que cavalgam pela crosta terrestre. Já há uns tempos que defendo a teoria de que aprendemos bastante sobre nós (humanidade) nos programas BBC Vida Selvagem, isto porque tirando umas fatiotas, uns ‘make-up’s’ e evidentemente a verborreica humana, fazemos todos parte integrante da mesmíssima dose de estrume. Por causa de tê-lo defendido publicamente às sete da manhã numa noite de Verão ia levando um tabefe de um filho de África, que pensou que estava a mandar-lhe uma indirecta. Aquela hora também já estão todos para lá de Marrakech e nem eu, nem ele éramos excepção. Antes que apanhasse o tal pão na boca esclareci imediatamente o rapaz que esta minha teoria fruto da cultura televisiva, via TV Cabo, contempla TODA a humanidade e não apenas a raça negra. Os programas que estão constantemente a repetir no canal Odissey são bastante esclarecedores sobre a simbiose existente entre presa - predador. E não é o que nos vamos batendo por ser? Predadores, então, em vez de presas... É a presa quase sempre que se põe a jeito de apanhar. É ela que passeia displicentemente pela selva, com um ar provocador. Parece que está mesmo a pedi-las! Pensem no exemplo de uma gazela, toda lolita a fazer o pliet num charco de lama, o baile do acasalamento pode custar-lhe a vida se estiver algum predador à espreita. Outro óptimo exemplo da nossa semelhança com o resto do mundo animal. Fruto de programas muitíssimo educativos, já descobri que arrancam penas, matam-se e esfolam-se vivos, mentem sobre si próprios, encharcam-se de colónia barata, dizem uma data de parvoíces. Olham, desolham, comem-se literalmente pós acto sexual, lambem-se, rosnam, gritam, arranham-se, agarram-se, colam-se e mordem. Nada que nenhum ser humano não tenha feito, (falo genericamente). Somos bichos, o Miguel Torga achava a mesmíssima coisa. Uns vão em carneiradas, outros preferem cabriolar de esguelha e ignorar os sinais de trânsito. Outros ainda hibernam na toca quando vêem o caso mal parado, quando não o vêem andam a monte entre especiarias indianas e vestidos chineses da Mouraria. A selva é a selva, seja urbana ou na savanah. |