terça-feira, janeiro 10, 2006

Mobbing Alberto

MOBBING
IS...
EMOTIONAL ABUSE in the workplace.
"Ganging up" by co-workers, subordinates or superiors to force someone out of the workplace through rumour, innuendo, intimidation, humiliation, discrediting, and isolation.
Malicious, nonsexual, nonracial, general harassment.



Tenho a certeza. Já não há nada a fazer. Escuso de começar a falar de batatas ou de morangos. Bossa nova que seja, já não vale a pena. Vou dedicar-me a isto de alma e coração. Sinto que é importante, que a polícia depois de ouvir esta cassete compensar-me-á por ter contado a verdade.
Sei que andam a ouvir-me. Ouvem-me sempre, mesmo quando não falo. Peço que me desculpem, tenho esta tendência idiota para ser poética, mas vou deixar-me de devaneios e contar-vos tudo.

Tenho o telefone sob escuta. A tendência seria entrar em pânico, mas como estou mais ajuizada, decidi confessar o meu crime enquanto como (de comer) uma caixa inteira de bombons que não eram meus, mas passaram a ser, roubei-os no dia de Natal.

Estou viva ainda e isso basta-me. Basta-me se não me chegarem a roupa ao pêlo. Se não vos deixar órfãos de história de repente.
O morto era mau como as cobras, mas ninguém dava por isso. O homem era só sorrisos e facilidades. Ainda por cima, tinha a mania que tinha graça.


História

Chegado a uma empresa do ramo automóvel em expansão, Alberto conquistou os quadros com ideias criativas para alegrar a barriga.
Era o gerente de pequenos delitos (auto rádios, retrovisores, faróis etc..) e ascendeu na carreira ao posto de director de projectos especiais: Ferraris e Porsches para traficar diamantes.
Íamos aos magotes de carro a caminho de Cascais, Boca do Inferno, à procura do cachorro quente.
A vida nessa altura parecia feita para desventrar devagarinho, sem muita violência. Andávamos cheios de genica, queríamos todos aprender com ele como se fazem piruetas com carros topo de gama. De um dia para o outro, Alberto tornou-se o nosso herói. Principalmente para algumas pequenas, que achavam aquela sua moda das calças justíssimas (normalmente tinham um touro de marca no rabo, ele devia identificar-se com o animal) a atrofiarem-lhe o falo, uma atitude desportiva e sexy. A legião de costureirinhas de estofos até tinha um clube de fãs.
Só que uma vez ganha a confiança, começou tudo a descambar. Estranhámos, quando nos pediu que acabássemos com a feira do Relógio (deve ter sido ele e os amigos gabirus que a conseguiram mudar de sítio) porque a mimada da criancinha tinha pesadelos com a voz estridente dos feirantes a montar a tralha às quatro da manhã. Mas o pior nem sequer foi isso, o caos instalou-se quando o Alberto começou a confundir a vida pública e a privada. E a sua mulher com o resto da humanidade.
Ao princípio estávamo-nos todos nas tintas para que o desgraçado tivesse sido encornado até à medula óssea, mas quando cada mulher que lhe passava à frente passou a ser uma grandessíssima “íssima”, aí o caso mudou de figura.

Corno de Póquer

Dissimulado e cínico, o mau da fita que graças ao meu tempero está a fazer tijolo, tinha a lata de nos convidar alternadas para ir ao café. As propostas variavam entre o indecente e a filha da putice. Entrou em pé de guerra com uma data de gente, desatou a desejar que às meninas grávidas nascessem filhos anormais, entre outras coisas sanguinárias que ele aprendia quando jogava póquer, bebia Moët Chandon e comia pataniscas de bacalhau.
Os dados de jogar ainda têm gordura encrostada, parecem uma obra de arte nojenta feita por aqueles tipos da pop art que têm a mania de misturar comida em tudo.

Quando as coisas começaram a aquecer, ficava completamente enojada quando o via com o seu falo atrofiado a lutar contra a bainha dos jeans, enquanto ele, se ria das desgraças alheias. Nessa altura pensei que alguém deveria escrever-lhe uma carta com o seguinte texto:

“Solta a próstata, dá-lhe espaço” ou talvez num tom mais arcaico, “ Soltai o bicho, dai-lhe espaço. Se não o fizerdes talvez venhais a arranjar um problema sério na próstata.”

Isto nem sequer está provado, mas o propósito era só pregar-lhe um cagaço. Para vingar os milhentos cagaços que ele me pregou por causa dessa mania idiota dos homens com problemas de ejaculação precoce exacerbarem o seu poder sobre os desgraçados dos subalternos (principalmente se forem mulheres).
A história do Alberto dava um livro de quadradinhos. No mínimo. O seu corpo, no entanto, rendeu-me um mês, ou dois de refeições (porque fartei-me de convidar gente para o comer também) no inverno passado.
Cozi-o, grelhei-o, escalfei-o, cortei-o aos bocadinhos, dei-o de comer aos peixinhos (palhaço e dourado) e braços e pernas em salmoura a macerar....
Deve ser por isso que gosto tanto do filme do Almodóvar “Que fiz eu para merecer isto!?”. Adoro quando a Gloria (Carmen Maura) serve ‘su esposo’ ao polícia, que curiosamente era amante dela. Sem faca nem garfo!
Influenciada também pelo conto do escritor norueguês Roald Dahl “Lamb To Slaughter”, e pelo filme também nórdico “Carne Fresca Precisa-se”, atirei Alberto para dentro de uma arca frigorífica gigante que estava nos calabouços da Fábrica de carros roubados, onde estagiámos para entrar no maravilhoso mundo do crime. Depois foi só fatiá-lo como se ele fosse bocados de rosbife.
Se um dos bófias que estavam a investigar o caso, não se tivesse engasgado com a minha sopa de rabo de boi que na realidade era o dedo mindinho do Alberto que tinha guardado para umas sopinhas, nada disto teria acontecido. Só que agora o meu telefone está sob escuta e a minha cabeça também.
Sinto que mais tarde ou mais cedo virão buscar-me. Apesar de não ter amigos na choldra, sei que só por estar a gravar esta cassete (apesar do gravador ser velho e roufenho) terei com certeza direito a atenuantes.
Agradeço de um quarto em quarto de hora o facto de estar viva.
Os seus amigos da Brigada Mobbing (B MAID) da Associação legal do Póquer andam montados em moto quatros à minha procura. Eu ando a monte...Vinguei todos os trabalhadores atacados, sujeitos a situações humilhantes e constrangedoras. Todos os trabalhadores rebaixados, oprimidos, ofendidos, inferiorizados, vexados e ultrajados pelas acções daquele filho da mãe
Eu comi-o com legumes, salteados, arroz de manteiga.
Em forma de sopa,
Mas nunca, nunca com batatas fritas.
(..)
O texto anterior apesar das intenções literárias teve todas as semelhanças com a realidade. Os Albertos existem são maus como as cobras. As cobras ao pé deles são animais de estimação!

2 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Cara Jessica,

Para quem conheceu o Alberto, antes de ser tornado em picadinho, tenham pena de não ter saboreado a deliciosa sopinha do dedão esquerdo, aquele que ele usava para escarafunchar a orelha, enquanto se lembrava de fórmulas mágicas para dar novos saques à já depenada industria em que se movia.

6:57 da tarde  
Blogger Mary Poppins said...

Cara anti-mobbing
para vocês ainda tenho uns dedidos de pé congelados, para substituir a mão de vaca com grão.
jantamos essa iguaria um dia destes, ou damo-a aos porcos do Snatch?

7:13 da tarde  

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