terça-feira, dezembro 20, 2005

Música Intransmissível

Há coisas que descubro depois de já estarem gastas e usadas pelo resto do mundo.
Nas últimas semanas uso a Internet desenfreadamente como se fosse um escape para colmatar os vazios deixados pelas ratoeiras da vida.
Eu que andei estes anos todos a dizer que dificilmente me deslumbraria com o que quer que fosse. Dou a mão à palmatória e consinto rendida que o “Emule” trouxe aos meus ouvidos uma Primavera musical.
Saco as músicas que sempre quis ouvir. Vou aos confins da memória e lá estão velhas histórias que se agarram como lapas às músicas .
Este prazer adolescente faz-me sorrir. Salto entre músicas de Filmes do Almodóvar e do Kusturika, entre risos e choros, porque sou uma mariquinhas de merda.
Se oiço a voz rouca da Luz Casal a cantar o “piensa en mi”, fico arrepiada com nós da garganta ao estômago. E às tantas sou responsável pela dor que carrego! Fui eu que a pedi. Carrego num botão e crio um estado de alma. Entro naquele mundo pegajoso feito de chocolate.

Vi pela primeira vez os “Tacones Lejanos” em Punta Skala, uma pequena aldeia da Croácia com pés de molho no Adriático, que banha a Dalmatia, (que deve ser a terra originária dos dálmatas). As legendas eram na língua da Hrvatska, e isso até injectou um certo exotismo balcânico no filme.
Fiquei num apartamento a três minutos de um braço de água onde nadava compulsivamente, ao lado da cave onde os meus senhorios: Marja, mãe de Klara e avó de Nikki e Théa dormia com Andrea, seu companheiro e restante prole.
Fiz essa viagem sozinha. Não tão sozinha, levava o “Lonely Planet” debaixo do braço.
Acho que precisava de respirar fora dos conceitos urbanos e às vezes tão provincianos de Lisboa. Fugi com alguma leviandade. Porque além das imagens fugidias da guerra dos Balcãs e umas imagens magníficas do pavilhão da Croácia da Expo 98, pouco ou nada sabia daquele país meio encantado.
Fiz a viagem obrigatória às ilhas KORNATI . Sobre as ilhas George Bernard Shaw terá dito:

“On the last day of creation, God desired to crown his work, and thus created The Kornati Islands out of tears, stars and breath”.

Nesse dia fiquei sem fala ante a brutalidade de várias naturezas. Sobre essa paisagem árida, cor de canela, que são as Kornati, destacou-se um marinheiro croata agridoce que me convidou para ouvir fado. "Uma casa portuguesa" e "Coimbra do Choupal" podem parecer um bocado ‘korny’, mas na altura com as emoções florescer como ervas daninhas adoeci, senti-me febril.
Delirante queria agarrar-me às barbas do velho capitão que exibiam aquela coisa tão bem descrita pelo Miguel de Unamuno e que se chama “O sentido trágico da vida”.
O leão do mar de olhos verde, azul turquesa apropriou-se da minha alma para depois a retraçar em pedaços.
No meio das entranhas do Adriático o mar é tão transparente que parece feito de vidro, o velho do mar, para me seduzir, evoca Baudelaire e o Grito do Munch.
Pergunto-lhe pelo Kusturika. Enfurece-se e grita-me raivoso “esse tipo é um Chetnik extremista”
O raio do homem fez-me sofrer como raio, pela sua dor e pela minha. Exactamente o mesmo sofrimento que sinto, quando oiço a Luz Casal.
O barco onde nos cruzámos chamava-se TORNADO! O próximo, dizia, seria SAUDADE....
Tenho saudades tuas ilusionista do lado...

3 Comments:

Anonymous Anónimo said...

hello,... again!
"lá longe o vento liberta o ...."
há quanto tempo!
...."ler-te!"....
beijinhos grandes.

p.s. e o café?

1:56 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Tenho de ir à Croácia, ouvir a Luz Casal. Só tu podias navegar num Tornado.
f.

4:46 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Música é vida interior
e quem possui vida interior
nunca padecerá de solidão.

1:27 da manhã  

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