terça-feira, dezembro 06, 2005

Já não é preciso ir bater palmas a Badajoz...

Como sou do tempo da outra senhora e fui criada com velhos relhos....lembro-me das excursões que antigamente se faziam a Badajoz. A minha tia preferida trazia, entre outros tarecos, aqueles caramelos com pinhões "El Caserio" , bisnagas de queijo fundido e leite condensado "La lechera", uma Hola! com um ponto de exclamação virado ao contrário, que entusiasmava de tal maneira os menos clarividentes, que estes reclamavam que a revista se chamava iholla!

Se me desenrasco no espanhol devo-o à minha tia. Se sei responder a algumas perguntas sobre os trambolhões da realeza europeia, devo-lhe também essa "cultura ancestral". Só que, infelizmente, o autor alemão Dietrich Schwanitz no livro "Cultura, tudo o que é preciso saber" dedicou um capítulo inteiro a tudo aquilo que não é preciso saber. E fazia tábua rasa dessa leitura mal amada, que é a cor de rosa. Talvez haja espaço para a Azul. A minha definitivamente é dessa cor, mesmo que seja piroso como o raio!
Apesar de ainda não ter lido o livro, dei-lhe só uma lambidela "sem olhos de ler" fiquei mesmo muito triste pela a minha aculturação não corresponder aos requisitos universais de esquerda.

Mas quem me mandou a mim nascer no seio de uma família meia fascizóide?
podia ter dado o grito do Ipiranga e ter aproveitado os universos revolucionários das minhas vizinhas que na mesa de cabeceira tinham uma pilha de livros forrados a papel pardo de teor marxista-leninista.
Não foi nada bonito da minha parte, mas confesso que não tive coragem para lê-los, além disso poderia ter tido vários ataques de renite alérgica e não estive para isso!
O resultado está à vista.
Sou uma solteirona antiquada que só come cogumelos depois de ter a certeza que os mesmos não envenenaram ninguém, por isso só agora me rendi aos encantos da loja sueca IKEA.
Vi-os durante anos rumarem a Madrid em carrinhas de caixa aberta (chamam-se pick ups, não é?) e a chegarem cheios de pacotes, caixinhas e caixetas para um "do it yourself" nos seus lofts ultramodernos. (adoro a forma que as bocas das pessoas fazem quando dizem que têm um loft)
A última gota foi ter visto o "logotipo" da dita loja na Alemanha de Leste (em pleno beijo ao capitalismo) no filme "Goodbye Lenine". Na altura pensei, ora estes rapazes do "materialismo histórico" sabem mais a dormir que eu acordada.... mas isso era 'La Palissiano'.
Quando já estava preparadíssima para alugar a tal 'pick up' e ir aventurar-me por terras de 'nuestros hermanos' cai-me de pára-quedas um IKEA em Alfragide. Não preciso da Pick-up, não compro caramelos pelo caminho, nem bisnagas da "La Lechera" para a engorda, reduzo-me à minha insignificância, deixo as castanholas em casa e já não vou, como se fazia noutros tempos..."bater palmas a BADAJOZ!"