WAVE, waves
Ando feita doida a calcorrear a baixa de Lisboa. Sem cheta nenhuma, limito-me a fixar as cantarias, as janelas abertas, as montras mais bizarras, os ratos do ar que nas suas acrobacias fazem razias na "pinha" dos transeuntes. Vejo-os quando procuro nesgas de azul que sobram no céu cinzento.
Amanhã chove de certeza, talvez hoje ainda. Não gosto nada de janelas de alumínio e de vidros duplos, além de tirarem o cachet aos velhos edifícios, impedem-nos de ouvir o barulho da rua, que inclui o de todos os tipos de chuva, o canto dos pássaros de madrugada, as buzinas a digladiarem-se umas às outras, os bêbados que cantam quando a noite vai alta, as notas das concertinas dos músicos anónimos da rua e tantos outros barulhos anónimos.
Quando era pequena o meu avô perguntava-me de que cor era o cavalo branco cuja garupa leva com o peso do Dom José no Terreiro do Paço, depois desatava-se a rir. Gosto de lá ir, e ver que pelo menos ali o cavalo enverga uma melena verde verdete.
Sigo um bando de gaivotas que sobrevoam o Tejo. Hoje, prateado a reflectir esta cor impotente, que se entranha na pele e rapidamente se transforma em nostalgia.
Vejo-as mais à frente a perfurarem a migalha que os meus olhos têm do bugio. Um ‘looping’ suicida no meio mar. O oceano transparente a desfazer-se em ondas.
Simples. Sem merdas. Única e exclusivamente para eu o ver. Por mais funçõezinhas que carregue, além de já ser o “Albergue do Anjo da Guarda” dos peixinhos.
Quero, agora, ter uma ideia romântica do oceano, livre de catástrofes naturais ou desastres ecológicos. Free oil: Sem pelicanos a despencar as suas vidas na cola preta do crude, vertido por um petroleiro, igual aquele que vejo empoleirado na linha do horizonte. Infelizmente ultimamente os oceanos andam tudo menos livres desse ranho nojento e hediondo, ao menos na minha cabeça, haja uma paz fictícia por momentos....
Apesar do pirismo inerente aquela Petula Clark que manda os solitários para “down town” deve ter visto com certeza a baixa de Lisboa em alguma fotografia ou postal. Aquela tirada, então, do “Just listen to the rhythm of a gentle bossanova” deve ser por causa do compasso dos passos das pessoas quando chegam das suas vidas via cacilheiro para se enfiarem na balbúrdia da cidade.
Eu se pudesse....fazia o caminho ao contrário, ia mar a dentro dançar o 'mambo jambo' com o Adamastor e restante corte de monstros marinhos e fazíamos uma 'jam session'...
Ia a cantar a “wave” do João Gilberto, aquela parte que é assim: “agora eu já sei da onda que se ergueu do mar e das estrelas que esquecemos de contar, vem de mansinho a brisa e me diz, é impossível ser feliz, sozinho”
Eles (os monstros marinhos) nada habituados a sentimentalismos idiotas transformavam-se todos num nenúfar gigante a perder de vista....
Agrada-me esta particularidade da baixa que sem tirar os pés do chão, mas sempre com a cabeça no ar...consigo ir e vir da Cochichina enquanto o diabo esfrega um olho…
Amanhã chove de certeza, talvez hoje ainda. Não gosto nada de janelas de alumínio e de vidros duplos, além de tirarem o cachet aos velhos edifícios, impedem-nos de ouvir o barulho da rua, que inclui o de todos os tipos de chuva, o canto dos pássaros de madrugada, as buzinas a digladiarem-se umas às outras, os bêbados que cantam quando a noite vai alta, as notas das concertinas dos músicos anónimos da rua e tantos outros barulhos anónimos.
Quando era pequena o meu avô perguntava-me de que cor era o cavalo branco cuja garupa leva com o peso do Dom José no Terreiro do Paço, depois desatava-se a rir. Gosto de lá ir, e ver que pelo menos ali o cavalo enverga uma melena verde verdete.
Sigo um bando de gaivotas que sobrevoam o Tejo. Hoje, prateado a reflectir esta cor impotente, que se entranha na pele e rapidamente se transforma em nostalgia.
Vejo-as mais à frente a perfurarem a migalha que os meus olhos têm do bugio. Um ‘looping’ suicida no meio mar. O oceano transparente a desfazer-se em ondas.
Simples. Sem merdas. Única e exclusivamente para eu o ver. Por mais funçõezinhas que carregue, além de já ser o “Albergue do Anjo da Guarda” dos peixinhos.
Quero, agora, ter uma ideia romântica do oceano, livre de catástrofes naturais ou desastres ecológicos. Free oil: Sem pelicanos a despencar as suas vidas na cola preta do crude, vertido por um petroleiro, igual aquele que vejo empoleirado na linha do horizonte. Infelizmente ultimamente os oceanos andam tudo menos livres desse ranho nojento e hediondo, ao menos na minha cabeça, haja uma paz fictícia por momentos....
Apesar do pirismo inerente aquela Petula Clark que manda os solitários para “down town” deve ter visto com certeza a baixa de Lisboa em alguma fotografia ou postal. Aquela tirada, então, do “Just listen to the rhythm of a gentle bossanova” deve ser por causa do compasso dos passos das pessoas quando chegam das suas vidas via cacilheiro para se enfiarem na balbúrdia da cidade.
Eu se pudesse....fazia o caminho ao contrário, ia mar a dentro dançar o 'mambo jambo' com o Adamastor e restante corte de monstros marinhos e fazíamos uma 'jam session'...
Ia a cantar a “wave” do João Gilberto, aquela parte que é assim: “agora eu já sei da onda que se ergueu do mar e das estrelas que esquecemos de contar, vem de mansinho a brisa e me diz, é impossível ser feliz, sozinho”
Eles (os monstros marinhos) nada habituados a sentimentalismos idiotas transformavam-se todos num nenúfar gigante a perder de vista....
Agrada-me esta particularidade da baixa que sem tirar os pés do chão, mas sempre com a cabeça no ar...consigo ir e vir da Cochichina enquanto o diabo esfrega um olho…
13 Comments:
"Se tenho alguma musa, ela é o prazo de entrega", Luis Fernando Veríssimo
Diz-te alguma coisa?
Fiquei amiga desse senhor, quando o entrevistei o ano passado, mas já era "amiga" do pai, por causa da Clarissa que li aos 14
hmmm...
a Lispector é filha dele?
não, a menos que ele (o pai) tenha ido à Ucrânia fazer meninos e não tenho dado por nada....memória selectiva if u know what I mean....
Este comentário foi removido por um gestor do blogue.
Este comentário foi removido por um gestor do blogue.
Apagaste as minhas esforçadas e dedicadas cogitações?!
Que falta de respeito e compreensão...
Estou triste, pensava que isto era livre da censura que tanto criticas...
Posso_idoneamente propor-te um tema?
Não tendo resposta, e depois de (dificilmente) ultrapassada a humilhação da rejeição demonstrada pelo teu silêncio, ainda assim proponho: fala-nos de carências...
pois bem, caro leitor depois de ponderada reflexão ser te à concedido esse desejo....Génio da Lâmpada a encarnar a ciber ruiva
Olhos de lince que vê que o cavalo de D. José é verdete, gosto de ler-te sempre que tenho tempo.
f.
O ócio que tantas vezes nos inspira tambem por vezes nos impede de escrever.
Impaciente leitor pergunta: para quando o próximo texto? Acaso andas com outras preocupações que te distraiam do essencial?
Enviar um comentário
<< Home