Na Garupa da Serpente subterrânea
Gosto das viagens de metro. De olhar a cara das pessoas através do seu reflexo nas janelas, quando a grande serpente subterrânea está já no escuro. Gosto de imaginar que vidas terão, que aspirações acalentam, quando na realidade só tenho acesso aos títulos dos livros que lêem, se os estiverem a ler.
Gosto de me lembrar se já li esses livros, o efeito que tiveram sobre mim, a forma como se impregnaram na minha vida, os conselhos que me deram, as armadilhas em que me impediram de cair e os amigos ocasionais que me proporcionaram.Gosto de ver quem é que na massa humana carrega sacos, que linguagem fala, ou se comunica através da gestual. Gosto de ouvir as sonoridades das línguas e dos dialectos. Gosto quando falam de África, do Brasil ou da Cochinchina.Gosto de boinas, de chapéus, de lenços, de burkas e de chapéus de chuva. Tento bisbilhotar se ouvem Ipod, MP3, discman, ou carregam consigo um velho walkman do século passado.Gosto de ‘piercings’, de brincos, de pares, de ímpares, dos velhos barbudos que parecem perdidos (ou achados) no mundo. Os casais de velhinhos de mãos dadas então, inspiram-me uma ternura enorme.
Gosto de responder se me dizem que está frio, ou que têm reumático nas pernas. Gosto das cores do metro das faunas várias se cruzam e sentam alietoriamente nas carruagens que compõem o corpo da serpente subterrânea. Gosto de olhos rasgados asiáticos, denarizes achatados, de aduncos e de abatatados. De todos os cabelos. Da loura platinada ao calvo, passando pela juba afro, ao preto escorrido, mas também do louro eslavo.
Gosto de responder se me dizem que está frio, ou que têm reumático nas pernas. Gosto das cores do metro das faunas várias se cruzam e sentam alietoriamente nas carruagens que compõem o corpo da serpente subterrânea. Gosto de olhos rasgados asiáticos, denarizes achatados, de aduncos e de abatatados. De todos os cabelos. Da loura platinada ao calvo, passando pela juba afro, ao preto escorrido, mas também do louro eslavo.
Gosto de lhes sorrir se têm um ar cansado, gosto de gostar das pessoas e constatar que fazemos parte de um bolo cultural gigante com as suas rocas e fusos. Mas todos comungamos da mesma ânsia, a espera de que o metro regresse e que nos leve de volta a casa.Sinto-me impotente quando vejo pedintes no metro (são cada vez mais) e não tenho um tusto furado. Gostava de comprar mais a Cais.
Às vezes quando mudo de linha, gosto de “perseguir” pessoas anónimas, nem que seja por causa de um fio de cabelo mais desalinhado. “Ganho” se a pessoa em questão entrar na carruagem escolhida por mim. A única regra que impus é ser eu a entrar primeiro na carruagem para que o desafio seja maior. Se por acaso ganho esta brincadeira silenciosa e infantil fico à espera de um sorriso ou de uma expressão da “vítima” que me lembre uma música ou um filme e que me transporte até à casa da partida. Apesar de parecer um bocado vampiresco ainda ninguém se queixou!
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