quinta-feira, janeiro 19, 2006

A catarse de um texto perdido


O meu blog está literalmente com problemas graves de ovários. Eu também.
Depois de ter investido as últimas quatro horas da vida directamente numa catarse hercúlea que misturava a minha vontade de querer romper com todas as amarras sociais que me apagam as palavras, com a dúvida de estar a fazê-lo, perdi o texto porque ignorei a parte de dever gravá-lo num documento do Word.

Como sou parvamente mística, estou plenamente convencida que foi um aviso, ou um castigo. As tentações do infeliz do Antão, ainda assombram a minha pobre cabeça.
Será o PC o canal entre o “Poltergeist” e a minha osmose com os demónios da estética cristã?

Estou a contar este aparte porque o texto anterior estava muito real. Tinha mandado quase todas as cruzes à vida, estava só a escrever pelo prazer lascivo de escrever, sem qualquer espécie de filtro, como o fazia antigamente.
Catarse total: Inspiro, expiro, respiro, suspiro. E se quiser até apanho um enjoo de suspiros e cavacas das Caldas. Crio um buraco mental dentro de outro buraco mental e escrevo as guitas e os cordéis literários que me apetecer...mesmo

Estava a dizer, cheia de propriedade que inventava uma nova receita:
escrever directamente no blog para que a catarse fosse mais genuína. Só que nem montanha, nem rato, foi tudo com os porcos, sem direito a auto-save ou a documento para os temporários.
Lembro-me que neste registo fui no texto anterior de braço de dado com o meu pai e o Fialho de Almeida a Cuba do Alentejo. Jantámos lá com o padre António Vieira e regressámos à nossa aldeia antes do cair do dia, porque o padre deita-se com as galinhas.
Se calhar vão dizer que me exponho demais, que ando a mostrar as feridas todas, que toda a gente deve ter um mundo muito secreto.
E imaginem se o meu dever é contá-lo....

Até os oiço entoarem em cânticos gregorianos: “Vais ver que te arrependes, sua tontinha infantilóide, nós damos-te cabo do canastro! ”

Mas a morte literária, até me excita...desde que não me ponha como a outra doida cheia de pedras nos bolsos. Mas essa era genial...
Isto faz-me sofrer, aquela mulher do nariz adunco ser genial, mas porque não hei-de dize-lo?

Ai, as regras, as regras...onde estão as regras?

Se estivessem aqui aquelas meninas da Mocidade Portuguesa diriam: “Isso não é nada bonito da tua parte, teres inveja da Viriginia Woolf”

Eu responderia: Não quero que seja bonito. Seja feio, então!

E o decoro, onde está o decoro?

Deve estar perdido junto com a chave de casa, que para variar não sei onde raio a meti.
Dava um bom tema. É lixada esta doença de estarmos a vida inteira a perder, ou a achar que perdemos coisas. Já perdi (ou achei) os óculos de ver, umas mil vezes, quando na realidade ao longo dos 25 anos de uso, terei perdido uns cinco pares. Houve inclusivamente uma vez que estive horas a ver se os farejava, e os óculos estavam dentro do forro de um sobretudo cujo bolso estava roto.
Quem me conhece sabe que se extrapolo da ficção para a realidade é porque a realidade é podre de boa! Como aquele pequeno “reality show” que marca a minha estreia no reino dos Nerds.
Ter levado os sapatos de quarto para a escola no sétimo ano, plus caixa de óculos é uma mistura explosiva. Viva, então, o Jardim Escola João de Deus que assistiu ao visionamento do primeiro par de óculos. Eram tão grandes para uma cara tão pequena
...
Será que toda esta violência estética bem no meio da minha cara, seria para depois saber saborear com mais sabor a recompensa?


Hoje fecho os olhos e volto apanhar o barco no rio cujas margens tinham búfalos cor de rosa e crianças cujos olhos riem à gargalhada.

Se o preço para vivê-la fosse andar de rojo, de gatas, de rastos, como uma versão da Jane D’ Arc a preto e branco só que sem a devoção divina, servia-me de bom grado de comer aos peixinhos para receber essa dádiva...isto é, senão a tivesse já recebido..

Isto de ser assim um bocadinho autista dá-me um jeitão enorme. No outro dia não deve ter sido por acaso que vi um programa sobre Autistas na 2 e às tantas aparecia lá um infeliz que só aos 50 anos, pai de filhos e netos, é que descobriu que padecia dessa merda. Claro que achei que seria perfeitamente normal que me acontecesse a mesmíssima coisa. Ora há pelo menos um livro, que já li mais de dez vezes e sou capaz de andar dias seguidos a ouvir a mesma música, ambos bons indícios. Adoro baloiçar-me em cadeiras de Baloiço, o que é outro sintoma. Por último consigo arranjar um acontecimento, do quotidiano ou histórico, para cada ano da minha vida.

Tudo isto apesar de em matéria de presidenciais, não ter absolutamente nenhum voto na matéria. Isso é bem mais vergonhoso e indecente do que um espectáculo numa casa de striptease. Lá ao menos as miúdas trabalham que se fartam e ainda têm tempo de ler o 24 Horas quando vão ao café e ficam a saber sobre o tema do dia. Se aquele Sebastião de Boliqueime desceu, ou não na célebre escadaria da Sondagem Real, ou se o senhor mais velhinho, que não é nem um bocadinho senil anda com a fundação às costas a fustigar Alegres e Sisudos, comunistas e outros que tais!


As pessoas não percebem o meu desinteresse e eu não consigo interessar-me.
Porque razão hão-de querer direccionar-me para junto do rebanho, se quero cabriolar à vontade na montanha ?


Isto porque no texto perdido disse que escrever é como pensar em hamburgers do Mac Donalds em plena ressaca e comer uma dúzia se for preciso....


É uma exposição do raio, que não é digna de alguém que queira dar-se ao respeito, além de que estou perfeitamente consciente que isto de escrever na primeira pessoa é um sinal de grande imaturidade.

E se gostar de ser imatura ?
E se decidir explorar esta falta como matéria prima ?

Hão-de ter muito a ver com isso...
O péssimo costume do mundo de se meter na minha vida. Agora chega dessa merda de uma vez por todas, estou farta de perder objectos, pessoas vivas e mortas. De não saber do paradeiro do carro, de morrer um bocadinho por não viver intensamente.

Se não tiver editora publico numa edição de autor. Travo as batalhas que tiver que travar, mas em matéria de escrita, faço o que me apetecer. Que se lixem as regras literárias! Vou buscar um bocadinho do Negro do cântico, cito Régio e grito em plenos pulmões “Não sei por onde vou, não sei para onde vou, só sei que não vou por aí”

2 Comments:

Anonymous Anónimo said...

ai as entrelinhas!....

o que por aí vai!

de rir e chorar por mais. LITERALMENTE!

BJS E A BENÇÃO...

4:39 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Cara escriba de pantufas, compreendo perfeitamente esse sofrimento por causa dos óculos perdidos. E o outro por causa das pedras no bolso também... Andei dois anos a chorar uns óculos perdidos que a minha avó me ofereceu, ainda para mais perdi-os nessa longitude que é a terra dos búfalos cor de rosa. Depois disso, nunca mais fui a mesma pessoa... sem os óculos e sem o cor de rosa. E quanto às pedras que nos levam ao fundo, os casacos agora têm bolsos pequeninos, rompem-se tão facilmente made in Zara que seria impossível... totalmente impossível, essa poesia do suicídio literário! beijos, abraços e solidariedade social... "Little Hem"

7:58 da manhã  

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