sexta-feira, março 17, 2006

Crimes sem Castigo

O crime compensa.
A Chris Wilton, emigrante irlandês e professor de ténis num clube da ‘High Society’ londrina, a vida não poderia ter corrido melhor.
Foi compensado por ter lido “Crime e Castigo” de Dostoievsky, por gostar de ópera e ser um camaleãozinho versátil, deslumbrado com determinado nível de vida.
Foi compensado com uma casa de campo, onde teve acesso às caçadeiras e carabinas, um sogro patrão que lhe pagou formação, lhe ofereceu um emprego com direito a secretária e a gabinete, e ainda, uma mulherzinha ansiosa por engravidar e dar continuidade à humanidade.
Foi compensado com a bombástica namorada do cunhado (Scarlett Johansson). Usufruiu bastante, mastigou o que teve na vontade e não se dando por contente por deitar fora, apenas, atirou-a ao rio (metaforicamente). A sua sorte foi ter falhado o serviço. E a aliança ter ficado do lado de cá. Este simples acaso da sorte fê-lo vencer no mundo do crime.
Woody Allen, realizador e argumentista, que inventou a personagem Chris Wilton também foi compensado com um divórcio, quando Mia Farrow descobriu ‘polaroids’ da sua filha adoptada Soon-Yi Previn no fogão de sala da casa de Woody. Aparte: Não teria mais nenhum sítio para as enfiar? Ou estaria mesmo, mesmo a pedi-las?
O realizador mais neurótico da indústria cinematográfica norte-americana foi ilibado de todas acusações, imputadas por Farrow.
Em tribunal não se conseguiu provar se o senhor Allen teria sido também excessivamente carinhoso com o filho adoptado de ambos Dylan. Apesar de ter sido proibido de ver e estar com as crianças, a não ser com a presença de um outro adulto.
Alheio a estas tricas, “absolutamente” menores o realizador narigudo de “Os dias da Rádio” ou “Poderosa Afrodite” casou-se em Veneza, na cidade das gôndolas com a coreana, até então sua enteada e apesar dos rios de tinta que correram sobre o assunto ninguém o ostracizou pela sua tenra escolha.
Passando rapidamente da indústria cinematográfica para a novela lusa da vida real podemos ver que as fátimas, os isaltinos e os valentins da vida foram aclamados pelo povo (que é quem mais ordena, mas o Zeca Afonso ficaria com certeza desiludido depois de tanta luta).
A corrupção venceu nas Autárquicas de Outubro passado, por isso será melhor repensar que valores é que iremos incutir aos adultos do futuro. Hão-de ensinar-me a educar uma criancinha de maneira que esta depois não me chegue a casa toda borrada aos berros: “Mãe por favor ensina-me a não ser um Tótó!!”
Começo a temer que corrupção, um dia destes, passe a ser sinónimo de audácia e coragem. É que os porcos, feios e maus são eleitos, reeleitos, elogiados, convidados para integrarem painéis televisivos, chás de caridade e de repente, não é que estes pobres diabos pensam que são a Madre Teresa de Calcutá?
Não há fralda que aguente uma coisa desta!!!!
Quando não dirigem jornais, dirigem revistas, quando já não têm as revistas, passam apresentar programas de televisão. Colocam a voz, exercitam o diafragma e é vê-los a fingirem que são bonzinhos, humanos e afáveis. Dão-me uns nervos, que devo passar por invejosa e despeitada. Mas quem não os conhecer que os compre e que os admita.
Eu ainda muito casmurra, muito idealista, nos meus trinta e pouco evito filiar-me em partidos políticos, deixar-me deslumbrar por Jetset, Jetleg e Jetcabra (este último vocábulo acabo de o inventar). É que estes olhinhos que a terra há-de devorar já viram muita menina Festa do Avante, esquecer a côr política e respectivo materialismo histórico e tornar-se numa sanguessuga dos pressupostos da Bobone. Depois eu é que sou uma grande cagona...
Mas nem oito, nem oitenta. Ora como ser esquerdalha ou direitalha implica na mesma dose uma série de maleitas, sou estruturalmente apolítica. E quando os vejo aos pseudo intelectuais darem-se às borlas como sete cães a um osso, juro que prefiro a pobreza franciscana, porque por mais que batam no ceguinho, algumas máximas bíblicas são mais actuais que a própria actualidade.
Gosto da sinceridade do Santo Agostinho: “faz o que digo, não faças o que faço”. Não é que o raio do santo tinha consciência?
Quanto a mim ex “carmelita descalça” podem comer-me viva, como os chineses fazem aos macacos, mas se faz favor não me atirem areia para os olhos. Faz doer que se farta e nem sequer me resolverá os problemas. Que são de estrutura também!

segunda-feira, março 06, 2006

A viver com ladrões

Vejo, o que vejo.
Mas invento.
Invento, porque não me chega o que há. Até porque me roubam tudo.
Materialmente. Espiritualmente, fico com os papéis.
Não consigo viver de outra maneira.
Parece que o perdi de repente, o buraco mental que ainda não passei a limpo.
Se estive par,
sou agora, dadas as circunstâncias,
ímpar
se tinha jeans, já não as tenho, nem coca-cola, batatas fritas, nem argolas de prata.
Roubaram-me tudo da mala do carro. Dois sacos da 'terra' cheios de mimo, camisolas sem borboto e os óculos da cigana.
Mas resta-me a alma e o moleskine.
Tenho que agradecer aos ladrões, não serem intrometidos e terem-me deixado como prémio de consolação:
o Moleskine, ajudante dinâmico do parapassaralimpo
um livro do Paul Auster
e duas revistas com o Lobo Antunes e a Frida Kahlo.
Valham-me os papeis. De toda a espécie.

explicação:
um dia depois de me terem tirado dois preciosos sacos de plástico do carro, estive impossibilitada de aceder ao blog durante uma boa hora, e assumo tive um ataque de pânico. Não sou de ferro.

quinta-feira, março 02, 2006

Junk life

A Internet é uma janela aberta para o mundo. Uso e abuso do cliché porque não saberia dizê-lo de outra maneira.
Através da rede, bisneta da aldeia global do McLuhan temos acessos vários, a vários mundos também. E basta um clique para que, enquanto o diabo esfrega um olho, passemos do Cristão para o Islão.
As cartas que escrevemos deixaram de ser do tamanho das epístolas de São Paulo aos Coríntios (ou a outro povo qualquer), e o velho marco do correio deixou de fazer parte da vida da maioria das pessoas. Excluem-se os velhinhos entre outros puristas, que gostam de escrever à mão, de lamber o selo e fechar o envelope.
Se por um lado, temos falta de tempo para toda essa ‘mise-en-scéne’, do papel de carta às florinhas, do envelope perfumado, do lacre e do acto de po-la no correio, vêm atracadas às novas tecnologias as cartas ‘spam’ e as cartas ‘junk’, de anónimos que teimam em meterem-se nas nossas vidas. E se os deixarmos espraiarem-se, alargam-na também. Mesmo que não haja nada, MESMO, nada, para que levem tal tarefa a bom porto.

Bem sei que sábio, o povo diz: “Mulher séria não tem ouvidos”, mas lá olhinhos tem, e mais grave ainda, consegue descortinar umas merdas na língua de Shakespeare. Engraçadíssimas e para “inglês ver”, as cartas que se alojam no compartimento spam e junk do meu email fazem umas sugestões e convites que vão do obsceno ao ridículo. Vêm com brindes vários: feromonas, viagra e métodos ancestrais de “enlarge”.
Hoje tinha lá mais uma, cujo assunto era “Have You Ever Tried Pheromone ?”
Outras vezes vão mais longe e querem “enlarge my penis”.
Ora isto é uma grande chatice, porque não tenho nenhum pénis. Não tenho, e, sinceramente não tenho inveja de quem traz um consigo.
Creio que a Clara Ferreira Alves queixou-se, há uns tempos, na sua “Pluma Caprichosa” do mesmo problema. Também ela, figura pública, estava a sentir-se invadida por esse louco ‘team’ do enlarge. Será que estes tipos não têm mais nada para fazer na vida, do que pensarem em enlarge os penis das pessoas?
É não via praga assim desde o tempo do Herbalife.
Acho incrível como é que se melgam no nosso ‘ciber’ apartado com este género de abordagens, quando nem sequer sabemos se estas cartinhas vêm com doenças infecto-contagiosas, sífilis e o raio!
Não há direito, e, além disso uma fêmea mais distraída, poderá pensar, a páginas tantas, “Terei cara de transexual?"
(o que sinceramente não contribuirá grande coisa para sua auto estima)

Considerações e apartes:

Estes Jimmi, Nikki “little Penis” que mandam os emails em questão, deviam ter em atenção o “gender” da pessoa para que se evitasse a confusão, em que olhamos de esguelha para umbigo e pensamos onde raio é que se meteu o dito cujo?.
Já não basta o mundo castrar-nos logo à nascença, só porque não temos pilinha.
Não são as meninas, mal confrontadas com a sua sexualidade que perguntam aflitas às suas mães porque é que têm uma rachinha, em vez de uma pilinha ?
Quer dizer, nos anos e anos a fio seguintes tentaram convencer-nos que afinal até somos as parideiras da humanidade para vir depois um Joe qualquer que não conhecemos de parte alguma, meter-nos o dedo na ferida!
Dá vontade de lhes responder :
My sexuality does not need any ‘enlarge’, by the way, why don’t you enlarge yours, and get a life?