Cartas antigas
Releio cartas antigas cheias de dúvidas.
Releio a medo respostas que me prometem literatura futura que provavelmente nunca me sairá da cabeça. Devo ter as mãos a caminhar para a paralisia. Ontem era tudo tão mais genuíno, inocente e despreocupado. Até decente. Tenho umas saudades tremendas dessa vida saltitante que sonhei agarrar com a minha mandíbula esfaimada.
Passaram seis anos onde a vida aconteceu sobressaltada, de fenómenos naturais, de coisas boas e más, de outras tão chocantes que nem pareciam que me estavam a acontecer a mim, quietinha como uma árvore ao vento. Tive também direito à paz melhor do mundo, do amor enroscado em laçarote de pontas penduradas.
Mas…
Não posso esquecer dessa vida cor de mel e das suas histórias malhadas. Não quero apagar tudo, matar uma projecção antiga, que tinha quando criança para se materializar na idade adulta. Uma gata selvagem embrenhada em esconder as garras.
Amargos de boca.
Sonhos partidos. Não sei nada sobre esta rotina de miar à lua. Tenho duas hipóteses ou continuo a alimentar-me de maresias infantis, ou encarno a sanguessuga e roubo as esquizofrenias que me rodeiam. Uso e abuso de todas as que tenho dentro dos bolsos, mas tenho agora um pudor absurdo de as escrever.
Não escrevo nada. Perdi o tino e o treino. É avassalador quando o Espírito Santo voltar a descer sobre mim, salto da cama, saio ensopada do duche e pego no caderno de capa preta e digo de minha justiça à vontade. Depois fecho a gaveta.
Releio a medo respostas que me prometem literatura futura que provavelmente nunca me sairá da cabeça. Devo ter as mãos a caminhar para a paralisia. Ontem era tudo tão mais genuíno, inocente e despreocupado. Até decente. Tenho umas saudades tremendas dessa vida saltitante que sonhei agarrar com a minha mandíbula esfaimada.
Passaram seis anos onde a vida aconteceu sobressaltada, de fenómenos naturais, de coisas boas e más, de outras tão chocantes que nem pareciam que me estavam a acontecer a mim, quietinha como uma árvore ao vento. Tive também direito à paz melhor do mundo, do amor enroscado em laçarote de pontas penduradas.
Mas…
Não posso esquecer dessa vida cor de mel e das suas histórias malhadas. Não quero apagar tudo, matar uma projecção antiga, que tinha quando criança para se materializar na idade adulta. Uma gata selvagem embrenhada em esconder as garras.
Amargos de boca.
Sonhos partidos. Não sei nada sobre esta rotina de miar à lua. Tenho duas hipóteses ou continuo a alimentar-me de maresias infantis, ou encarno a sanguessuga e roubo as esquizofrenias que me rodeiam. Uso e abuso de todas as que tenho dentro dos bolsos, mas tenho agora um pudor absurdo de as escrever.
Não escrevo nada. Perdi o tino e o treino. É avassalador quando o Espírito Santo voltar a descer sobre mim, salto da cama, saio ensopada do duche e pego no caderno de capa preta e digo de minha justiça à vontade. Depois fecho a gaveta.